Imagine se Jesus nascesse no Brasil, País da festa e da alegria. Nada mais apropriado do que uma grande quadrilha para receber o Salvador. Foi usando dessa licença poética que a Associação Cultural Opereta iniciou o espetáculo "Passos da Paixão" de 2014. Milhares de pessoas estiveram presentes na Praça de Eventos "Lucília Gomes Felippe", em Poá, para assistir ao espetáculo teatral que contou a vida, morte e ressurreição de Cristo por meio da cultura popular.
É bem verdade que muitos que lá estiveram estranharam a presença de tantas manifestações culturais brasileiras juntas, como o Carnaval, a Folia de Reis e a Cavalhada. O colorido das roupas e dos adereços, em harmonia com a orquestra e o coral de 16 vozes, contrastou com o imaginário de muitas pessoas que trazem as cenas da Paixão de Cristo carregada de muita dor e sofrimento.
Neste 15º ano de apresentação consecutiva na cidade, que também é o 20º de fundação da Opereta, o grupo resolveu inovar. "Nossa simpatia é muito grande pelos processos e pelas manifestações. E aí achamos que em uma data como essa em que o Passos está debutando seria apropriado falar um pouquinho dessa história e a cultura popular ia ajudar a fazer algo que sempre quisemos, que é aproximar mais essa figura do Cristo das pessoas", afirma a diretora geral do espetáculo, Lidiane Santos.
Mas tudo aquilo que é considerado sagrado na história de Jesus foi mantido. As cenas do milagre de Lázaro, a Santa Ceia, o Lava-Pés, as tentações e, principalmente, a condenação e crucificação mantiveram a sua carga de dramaticidade. E o que não podia faltar, que já é tradicional na encenação, é a procissão de Cristo pelas ruas da cidade carregando a cruz lado a lado com a multidão ao redor. Imagens que emocionaram muitos que foram pela primeira vez. "Foi muito interessante. Estar no cortejo vendo Jesus sendo chicoteado, senti como se estivesse fazendo parte da peça", contou a militar Amanda Soares dos Santos, de 22 anos, que veio de Itaquaquecetuba para assistir ao Passos.
Para quem acompanhou até o fim as cenas da ressurreição no segundo palco montado em um terreno ao lado da Praça de Eventos garante que valeu a pena esperar para o ato final. "Foi ótimo. Ficou ótimo essa mistura com as festas populares", diz o funcionário público Marcos Pereira, 51, morador de Suzano. A mesma opinião foi compartilhada pelo subgerente Marklee Lemes, 22, também susanense. "Foi bem diferente. Já tinha assistido em 2012 e percebi as mudanças. Deixou a história mais rica. Trouxe a história que é muito antiga para os tempos de hoje", resume.
