Nayara Ruiz
Da reportagem local
A família do auditor financeiro José Carlos Nunes Junior, de 43 anos, viveu um verdadeiro drama no fim de janeiro. Após perder um parente, a família tinha a intenção de realizar um ato humanitário e doar as córneas do familiar. No entanto, a doação não pode ser feita, segundo Nunes Junior, devido à burocracia.
No dia 29 de janeiro, o tio da esposa de Nunes Junior foi levado ao Hospital Ipiranga, por volta das 16 horas, após ter tido um enfarte em sua casa. A confirmação do óbito ocorreu às 17h40 e a causa foi enfarte do miocárdio decorrente de hipertensão arterial e diabete. Após a angústia da perda, veio um gesto de amor em ajudar o próximo. "Era uma vontade dele, que sua esposa iria cumprir, fazendo a doação de suas córneas. Pode parecer um pequeno gesto, mas que tem a força de transformar a dor da morte em continuidade da vida de outra pessoa".
A preocupação com o próximo, porém, deu início à perplexidade. "Ainda no hospital, onde fomos muito bem atendidos e recebemos toda a atenção necessária, houve uma pequena falha, que foi a de não haver preparo suficiente. Isso porque não conseguíamos informações sobre os procedimentos necessários para viabilizar a doação", contou. Nesse momento, em contato com amigos e parentes, a família conseguiu o telefone do Banco de Olhos de Mogi (BOM). "Já havia passado três horas do óbito. A retirada do tecido deveria ser feita em até seis horas após a morte, mediante a certidão de óbito".
O possível doador havia chegado à emergência do hospital sem vida. "Foi o que os médicos nos disseram. E, por esse motivo, teria de ser encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML), já que o médico com quem ele se tratava não se encontrava na cidade e seria o único com responsabilidade para assinar o atestado". De acordo com a legislação federal, a retirada das córneas só pode ser realizada após a conclusão da necropsia ou atestado de óbito. Como a segunda opção era inviável e o tempo já estava se esgotanto, a família perdeu as esperanças.
O corpo do familiar, segundo Nunes Junior, deixou o hospital por volta das 20 horas com destino ao IML de Mogi. "Às 23 horas, recebi uma ligação dizendo que o corpo estava fora do IML, ainda dentro de um carro da funerária, pois o instituto não estava aberto. É inacreditável que um lugar como esse não funcione 24 horas. Se houvesse uma agilidade em realizar a necropsia, talvez tivéssemos tido sucesso".
O presidente do Banco de Olhos de Mogi, Mário Júlio de Souza, afirmou que há realmente um processo burocrático muito longo, mas que pode ser amenizado quando há comunicação entre a entidade e o hospital. "O que nós precisamos realmente saber é a causa da morte, para que não desperdicemos uma captação. Se o hospital entra em contato conosco avisando que há um óbito e um possível doador, o nosso trabalho ganha uma agilidade enorme", afirmou. "É uma pena saber que perdemos um potencial doador, enquanto estamos sempre em busca de doadores".