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Entrevista de Domingo| Lana Spaolonzi Daibs

Ética e sensibilidade em nome da saúde pública

Por trás das decisões firmes e da postura rígida nas fiscalizações da Vigilância Sanitária do Estado, existe uma mulher de sorriso fácil e sensível aos sentimentos do próximo

Publicada em 20/09/09

Daniel Carvalho

"Quando entrei nessa área, encontrei minha missão. Nada é por acaso. Eu amo trabalhar com saúde pública".

Jamile Santana
Da reportagem local

A regra de não fumar em ambientes fechados está valendo há 26 anos na casa da diretora da Vigilância Sanitária do Estado, Lana Spaolonzi Daibs. Hoje, ela e uma equipe de técnicos realizam a fiscalização da Lei Antifumo em bares, restaurantes, casas noturnas e outros estabelecimentos para que a determinação estadual de manter o cigarro apagado em locais públicos fechados seja cumprida.

Mas, como diz o provérbio, "santo de casa não faz milagre". Apesar de ter conseguido mudar o hábito de muitos fumantes em prol da saúde, a convivência com um adepto do cigarro segue de forma diplomática dentro de casa. Com a mesma personalidade forte que adota na profissão, Lana é firme com o marido: cigarro, só no quintal.

Por traz da mulher rigorosa e séria, existe uma pessoa emotiva e de sorriso fácil. Reservada, não gosta de falar sobre a vida pessoal, mas sim de trabalhar pela saúde pública.

Em entrevista ao Mogi News, a diretora conta como se apaixonou pela área e o que pensa sobre o desenvolvimento das técnicas de trabalho da Vigilância Sanitária, onde atua há 13 anos. Lana revela ainda como se divide em profissional invejável e mulher de sonhos.


Mogi News: Como você optou pela área da saúde pública?
Lana Spaolonzi Daibs:
Minha mãe era chefe de um posto de puericultura (atendimento voltado a crianças), mas me formei em História e lecionei durante oito anos em Suzano. Teve um dia em que eu estava indo dar aula e pensei: "Não quero essa monotonia para a minha vida". Nessa época, minha irmã mais velha cursava saúde pública na Universidade de São Paulo (USP) e fui me interessando. Eu me apaixonei. Em 1988, fiz especialização nessa área e prestei concurso para educadora em Saúde. Depois, em 1995, quando assumi a chefia da Vigilância, fiz pós-graduação em Planejamento de Serviços de Saúde e aprendi a fazer vigilância sanitária. Você vê coisas que jamais imaginou e pensa: "Meu Deus, eu comi nesse lugar".


MN: Nestes anos à frente da Vigilância, quais foram as mudanças mais significativas?
Lana
: A Vigilância melhorou bastante de 1995 para cá. Hoje, o trabalho desenvolvido visa a destacar o que é risco grave à saúde, a gerenciar estes problemas. Tentamos acompanhar a tecnologia, adaptar a legislação às novas facilidades. A municipalização, que aqui na região foi concluída em 2003, dividiu alguns trabalhos do setor. As ações básicas, como fiscalização em estabelecimentos comerciais, são feitas pela Prefeitura. A Vigilância do Estado preocupa-se com a inspeção do que chamamos de média e alta complexidades, que trazem riscos maiores à saúde, em hospitais, laboratórios.


MN: Quais foram seus maiores desafios até hoje?
Lana:
Tivemos situações muito ruins, como o caso da morte de bebês na UTI neonatal da Santa Casa de Mogi, em 2002. Foi um trabalho árduo com o Conselho Regional de Medicina e a Promotoria Pública para descobrirmos qual era o problema. No fim, era uma infecção hospitalar. Faltavam toalhas de papel e antissépticos para lavar as mãos e diversos equipamentos apresentavam falhas técnicas. Detectamos também a presença de medicamentos com prazo de validade vencido, demora no resultado de exames clínicos e fluxo inadequado de materiais limpos e sujos. Foi triste de ver.


MN: Diante de uma situação como essa, já tentaram te corromper?
Lana:
Sim. Foi na época do caso dos cogumelos falsificados, logo que assumi a chefia do setor. Alguns empresários queriam que eu desse um jeitinho na lei, mas eu me mantive firme. Não tenho um pingo de dó quando faço fiscalização. Em hospitais, por exemplo, existe o administrador hospitalar, profissional que tem conhecimento das obrigações sanitárias que deve cumprir no estabelecimento em que trabalha. Então, se encontro algo errado, tenho de agir com os rigores da lei e nada me comove. A única coisa que mexe comigo é fiscalização em abrigos asilares. Tem muita gente picareta nesse meio. Com a ajuda do promotor Ricardo Montemór, conseguimos fechar cinco deles definitivamente de 2005 até o ano passado.


MN: O que você já encontrou nesses abrigos?
Lana:
Situações inacreditáveis. Embora eu seja muito legalista e determinada, fico abalada quando vistoriamos um abrigo asilar e vejo os idosos sendo mal-tratados. Penso na família que tem coragem em deixar um idoso em um lugar desses, porque a maioria dos asilos é clandestina. Por outro lado, fico pensando na pessoa que tem coragem de ganhar dinheiro à custa do sofrimento dos outros. Isso toca meu lado humano.


MN: Você é conhecida pela personalidade firme. Como você encara isso?
Lana:
Sempre fui de muita opinião, muito determinada. No colégio, fiz técnico em engenharia mecânica contra a vontade do meu pai. Sou uma pessoa muito franca. Às vezes, passo por grossa. Quem não me conhece acha que sou mal-educada, mas não é isso, é só meu jeito firme de falar. Para mim, não existe meia verdade. Ainda mais na minha profissão. Tenho de ter bom senso, mas ser técnica. Não posso agir de outra forma.


MN: Sobre a Lei Antifumo, o fato de o empresário ser multado no lugar do fumante é uma controvérsia?
Lana:
Não, porque o Código de Defesa do Consumidor e o Código Sanitário deixam claro que os responsáveis pelo estabelecimento são os proprietários ou aqueles a quem eles delegam a responsabilidade durante sua ausência. Então, cabe ao proprietário tomar as providências preventivas de promoção à saúde, o estabelecimento é dele.


MN: Como é a aceitação da lei hoje?
Lana:
Achei que encontraríamos resistência, mas o que está havendo é uma mudança de comportamento muito grande. Nos últimos 15 dias, não tivemos autuações. Acredito que muitos fumantes deixarão o cigarro. Tenho um fumante em casa, meu marido, mas ele só fuma no quintal. Sou alérgica e nunca gostei de cigarro. Só traz malefícios à saúde e é isso que as pessoas precisam entender. Meu marido passou por um cateterismo no ano passado e, mesmo assim, não parou de fumar. Mas, nas fiscalizações, vejo uma mudança significativa no hábito dos fumantes.


MN: O que mais você quer realizar profissionalmente?
Lana:
Quero fazer mestrado. Preciso de tempo para fazer o curso na USP e estudar inglês. Os atuais termos da Vigilância são todos em inglês. É só isso que quero. Sou muito ligada à família e ao cuidado espiritual. Quanto ao trabalho da Vigilância, acho que alguns técnicos precisam entender que o exercício da profissão não é só documentação. Não é burocracia. Mas, no geral, minha equipe é muito determinada, realmente veste a camisa. Um diretor não faz o trabalho sozinho.


MN: Da sua carreira, o que você carrega de aprendizado?
Lana:
Aprendi que a gente precisa viver muitas vidas ainda para compreender o que é o ser humano. Porque você encontra pessoas pobres de espírito. Pessoas que ganham dinheiro em cima do sofrimento dos outros, que não se importam com o próximo. Quando entrei nessa área, encontrei minha missão. Nada é por acaso. Eu amo trabalhar com saúde pública.


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