Nayara Ruiz
Da reportagem local
Famílias de palestinos abrigadas em Mogi temem pelo futuro e reclamam de uma série de dificuldades. Nesta semana, uma das refugiadas, Nusha El Loh, de 65 anos, morreu de pneumonia. A família dela diz que faltou assistência. A situação do grupo pode piorar. A partir de outubro, acabam os benefícios que recebem por meio do Programa de Reassentamento Solidário do governo federal.
O programa, implementado pelo governo federal com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e organizações não-governamentais, como a Cáritas, trouxe 108 refugiados para o Brasil entre setembro e outubro de 2007, sendo que 57 deles vieram para Mogi das Cruzes.
Esses refugiados viviam no Iraque e foram obrigados a deixar o país por causa da violência iniciada após a queda do regime de Saddam Hussein. Sem a oportunidade de escolher, se viram num país estranho, de cultura, costumes e idioma desconhecidos.
Para eles, foram prometidas aulas de português, assistência médica e odontológica, apoio de tradutores, acesso à educação e a cursos profissionalizantes, além de casa alugada e mobiliada e um auxílio-subsistência por um período de dois anos. Na teoria, a adaptação não seria tão difícil, mas nem todas as promessas foram cumpridas.
Huda Albandar, 30 anos, uma das únicas que aprendeu o português, contou qual é a situação real: "Realmente recebemos uma ajuda mensal e não precisamos pagar o aluguel do imóvel. Mas não fomos tratados com igualdade. Nunca tivemos ajuda de tradutores e nem fomos auxiliados a entrar para o mercado de trabalho. Nos hospitais, postos de saúde, supermercados e lojas, ninguém entendia o que queríamos, e muitas vezes éramos enganados por não falarmos o português".
No começo, alguns voluntários indicados pela Cáritas os ajudavam, mas sem motivo aparente os auxílios cessaram.
"A ajuda agora vem sendo dada por grupos de brasileiros que estão comovidos com a nossa história e querem de alguma forma nos auxiliar a superar nossos problemas. É o caso do Comitê Autônomo de Solidariedade ao Povo Palestino, que tem dado muito apoio", disse Huda.
Luto eternoNo final de 2007, quando chegou ao Brasil, Huda, que na época tinha 28 anos, descobriu que estava grávida. Como já havia perdido dois filhos, sabia que era portadora de insuficiência istmocervical, que causa abortos tardios ou partos muito prematuros, e por isso deveria passar por uma pequena intervenção cirúrgica após o terceiro mês de gestação.
Com a assistência médica quase que inexistente, passou com atraso pela cirurgia. "Esperei mais de um mês e meio. E durante toda a gestação eu senti muita dor", contou. No sexto mês, Huda sentiu as contrações, que indicavam que o bebê iria nascer. "Nessa época eu não falava português e quando pedia ajuda da Cáritas, eles diziam que eu tinha que me virar". O bebê, afinal, nasceu sem vida e Huda teve de amputar o útero. "Foi tudo feito na Santa Casa de Mogi, e nunca com qualquer ajuda da Cáritas".