Jamile Santana
Da reportagem local
Após viver o drama dos conflitos entre muçulmanos e judeus na Faixa de Gaza e buscar refúgio em Mogi das Cruzes, morreu na noite da última segunda-feira, Nusha El Loh, de 65 anos. Ela chegou à cidade há três meses com um grupo de refugiados atendidos pelo Programa de Reassentamento Solidário do governo federal. A família, que fala e entende poucas palavras em português, teve dificuldades em liberar o corpo da muçulmana, que deu entrada na Santa Casa de Mogi das Cruzes no domingo com quadro grave de pneumonia e diabetes. Nusha foi enterrada no Cemitério Islâmico de Guarulhos.
Na tarde de domingo, Nusha começou a sentir forte indisposição e foi levada pelos parentes à Santa Casa. Lá, realizou diversos exames, constatando a pneumonia avançada e alta taxa de diabetes no sangue, o que prejudicou o tratamento. Por volta das 20 horas de ontem, Nusha, que estava debilitada e entrou em coma, sofreu choque cardiogênico e não resistiu.
Sem se comunicar em português e com dificuldade de conseguir liberar o corpo de sua mãe e arcar com as despesas do translado (cerca de R$ 1,5 mil), o filho Hossan Hejazi Khalil El Loh, com quem a muçulmana morava, ligou para a Cáritas Diocesana de Mogi das Cruzes para que enviassem um tradutor, mas o pedido não foi atendido. "Liguei lá e disseram que era para eu me virar, que o problema era meu", contou. Hossan entrou em contato com o Comitê Autônomo de Solidariedade ao Povo Palestino - Organização não-governamental- para obter auxílio no hospital. De acordo com um dos membros do comitê, a historiadora Ivone Marques Dias, os médicos que atenderam a refugiada deram todas as explicações e esclarecimento sobre o que havia acontecido. "Todos foram muito atenciosos e fizeram o que podiam para tentar salvar Nusha. Mas, infelizmente, os refugiados foram esquecidos pelas autoridades".
A despesa com o traslado do corpo, que foi enviado ao Cemitério Islâmico de Guarulhos, foi paga por membros da Mesquita da Sociedade Cultural e Beneficente Islâmica de Mogi das Cruzes.
No chãoDe acordo com familiares e amigos de Nusha, ela estaria dormindo diretamente no chão, sem cobertor suficiente para protegê-la do frio dos últimos dias. "Nós não temos condições de comprar uma cama para ela. Já pedimos ajuda para o Cáritas, mas ninguém ouve. Os médicos disseram que era para minha mãe estar viva, se tivesse recebido a assistência que precisávamos desde quando chegou aqui. Perdi muitos irmãos, mas lá havia uma causa, a guerra. Viemos pra cá para nos salvar e não morrer de graça". (Leia mais em matéria abaixo).
HistóriaA refugiada Nusha e o filho Hossan ficaram dez anos sem se ver, por conta dos conflitos na Faixa de Gaza. "Lá, quando as tropas do Exército de Israel invadiam as casas e bombardeavam tudo, as famílias se separavam. É o caso deles, que ficaram dez anos sem se ver. O Hossan também só encontrou com o filho dele, aqui no Brasil", explicou Mauro Aguiar, integrante do comitê de apoio aos palestinos.